Dezoito trabalhadores do sexo masculino, com idades entre 20 e 40 anos de idade, egressos do trabalho escravo em Mato Grosso, receberam nesta sexta-feira (9), o certificado de conclusão do curso de Operador de Máquinas e Implementos Agrícolas. Eles integram a 41ª turma qualificada pelo projeto Ação Integrada, que visa a inclusão social de trabalhadores resgatados de condições análogas às de escravo ou que se encontram vulneráveis a essa exploração.
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Esses trabalhadores são oriundos dos municípios de Rosário Oeste, Diamantino, Nobres, Lucas do Rio Verde e Nortelândia. |
Os trabalhadores formandos são oriundos dos municípios de Rosário Oeste, Diamantino, Nobres, Lucas do Rio Verde e Nortelândia. A maioria foi resgatada de uma operação do Ministério do Trabalho em uma empresa que atua na secagem de grãos, em Nova Maringá (localizado a 370 km ao norte de Cuiabá). Lá, os fiscais constataram precariedade do alojamento, falta de higiene, jornadas extenuantes e desrespeito aos direitos trabalhistas.
O jovem Janio Pereira da Silva, de 20 anos, natural de Nobres, foi um dos resgatados. Ele conta que a qualificação do projeto Ação Integrada deixou mais animado para voltar para sua cidade e recomeçar a vida, agora com um ofício. “Tenho esposa e uma filha pra cuidar. Então esse curso é só o começo de tudo para poder dar uma vida mais digna para minha família”, relata o trabalhador.
Durante 45 dias, ele e seus colegas participaram de uma qualificação com carga horária de 120 horas, promovida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), no Parque de Exposições da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), numa parceria com o Sindicato Rural de Cuiabá. Lá, eles se envolveram nas atividades teóricas e práticas do curso. Como são todos do interior do estado, os trabalhadores ficaram, nesse período, alojados no Centro de Pastoral para Migrantes, em Cuiabá.
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Projeto é completo porque atua no resgate dos trabalhadores, na defesa dos direitos deles pelo exercício da cidadania. |
Conforme o coordenador do projeto, Pablo Friedrich de Oliveira, o projeto ação Integrada é completo porque atua no resgate dos trabalhadores, na defesa dos direitos deles pelo exercício da cidadania e da dignidade, na qualificação profissional e no acompanhamento social dos atendidos. “Grande parte dos trabalhadores resgatados são oriundos de atividades realizadas na zona rural, tais como frente de pasto e atividades relacionadas à pecuária”, informa.
O superintendente da SRT/MT, Amarildo Borges de Oliveira, disse durante a solenidade de formatura dos alunos que essa qualificação é apenas o início de um processo permanente que buscar os estudos e qualificação por melhores condições de trabalho e dignidade. “Infelizmente ainda há empregadores que se aproveitam da situação de vulnerabilidade social e colocam trabalhadores em situações indignas. Esta é qualificação mínima para o recomeço. O resto depende de vocês”, afirma.
A procuradora do trabalho Jéssica Marcela Schneider apresentou dados do site Observatório Digital do Trabalho Escravo no Brasil do Ministério Púbico do Trabalho e da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Um levantamento relativo ao período de 2003 a 2017 indica que com 4 mil resgates Mato Grosso é vice-campeão brasileiro de trabalhadores resgatados de condições análogas às de escravo. A estatística coloca o município mato-grossense de Confresa (a 1.065 km de Cuiabá) com o que mais teve trabalhadores resgatados.
“É claro que não é um número para se orgulhar, mas se por um lado o número é elevado, por outro mostra que as ações de fiscalização têm sido feitas. Daí a importância do ‘Ação Integrada’, que também atua na prevenção para que eles não sejam vítimas do trabalho escravo”, esclarece a procuradora.
Também estiveram presentes na solenidade de formatura representantes da UFMT, do Sindicato Rural de Cuiabá, da Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc), do e da unidade estadual do Serviço Social da Indústria (Sesi/MT).
22.6.17
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