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O coveiro Valdinei Carço abre em Colniza mais uma cova no chão de terra vermelha, ao lado de outra, recém-aberta. (Foto: Ahmad Jarrah/Repórter Brasil) |
Túmulos à espera de um dono não eram comuns até a última chacina em Taquaruçu do Norte (distrito de Colniza), em 19 de abril, quando nove homens foram executados em disputas de terra. Carço enterrou cinco. "Tinha gente demais, até atrapalhava o trabalho", diz, sobre o tumulto daquele dia. Por isso, diz, decidiu se antecipar à próxima chacina, tema de conversas na pacata e hostil Colniza.
Do tamanho dos Estados de Sergipe e Alagoas juntos, com 34.885 habitantes, Colniza não é para iniciantes. O município, localizado a mil quilômetros de Cuiabá (MT), recebeu o título de mais violento do país em 2007, mesmo ano em que três trabalhadores rurais foram mortos e outros dez, torturados, segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra).
"A violência impera em Colniza", diz Cristiano Cabral, coordenador estadual da CPT. O medo acua até os que lutam pelos direitos da terra, como é o caso de Cabral.
Ele só aceitou falar com a Repórter Brasil um mês depois da chacina. Na conversa, se lembrou de outro crime que chocou a cidade, quando duas lideranças rurais foram assassinadas depois de denunciarem a ligação de políticos e policiais com a extração ilegal de madeira à Ouvidoria Agrária Nacional. "Ali tudo gira em torno dos conflitos agrários, que envolvem trabalhadores, grileiros, fazendeiros, empresários, milícias e políticos", diz.
Taquaruçu no corredor da morte
Por denúncia anônima, a notícia da chacina alcançou o delegado Edison Ricardo Pick 24 horas depois do crime. "Aqui é difícil até de compor um inquérito. As pessoas não falam. Têm medo de dar informações e de se tornarem alvo de ameaças", diz Pick.
Outra razão para a demora é que Taquaruçu não dispõe de sistema de telefonia nem de rede elétrica. Isso obriga os moradores a se deslocarem até o distrito mais próximo, a cerca de 30 km.
Os primeiros relatos sobre o crime trazia traziam a informação de que crianças e idosos estavam entre os mortos. Policiais militares e civis só começaram a se deslocar para o local do crime no dia 20.
O trajeto de Colniza até Taquaruçu, zona rural próxima à fronteira de Rondônia, conta 250 km de estrada de terra. Nem o aplicativo Google Maps encontra a rota. A viagem pode levar de 16 horas a três dias, variando de acordo com as chuvas, que favorecem derrapagens e atolamentos. (Thais Lazzeri e Raíssa Genro, Repórter Brasil)
Leia aqui matéria completa no link.
10.7.17
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