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A presidente da DS do Sinait, Marilete Mulinari Girardi, leu o manifesto da entidade pela revogação da Portaria 1.129. (Foto Mário Hashimoto) |
Auditores-fiscais do Trabalho de Mato
Grosso aderiram à paralisação nacional da categoria, organizada pelo Sindicato
Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (Sinait) e cruzaram os braços nesta
terça-feira (25) contra a Portaria 1.129, que altera o conceito de trabalho
escravo disciplinado pelo Código Penal e por convenções da Organização Internacional
do Trabalho (OIT). As atividades concentraram-se pela manhã em frente à
Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Mato Grosso (SRTE/MT), no
bairro Porto, em Cuiabá, e atraiu cerca de 50 pessoas, entre auditores-fiscais
e apoiadores.
A Delegacia Sindical do Sinait em Mato
Grosso recebeu manifestações de apoio de várias instituições que atuam na
defesa e proteção do trabalhador mato-grossense. A presidente da DS, Marilete
Mulinari Girardi, lembrou ao público presente que Mato Grosso lidera o ranking
de trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão contemporânea no
país. Dados parciais da Seção de Inspeção do Trabalho da SRTE/MT revelam que
dos 219 resgatados no país, 98 deles forem encontrados em terras
mato-grossenses.
“A classe política de Mato Grosso
integra a bancada ruralista. Ela está alinhada com os interesses do Poder
Executivo, em Brasília. Mas não custa lembrar que ‘Estado do Agronegócio’ responde
por quase 45% do total de trabalhadores resgatados em somente em 2017. Então,
precisamos unir forças para que a fiscalização de combate ao trabalho escravo
cumpra o seu papel sem a mordaça da Portaria 1.129. Diga não à Portaria 1.129
do Ministério do Trabalho!”, convocou Marilete antes de ler o manifesto do
Sinait.
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Egresso do trabalho escravo, João Batista da Cunha deu seu testemunho de quando foi resgatado pela fiscalização em 2009. (Foto: Anderson Pinho) |
O movimento recebeu um apoio valioso: o
do trabalhador João Batista da Cunha, um dos 308 trabalhadores resgatados em
condições análogas à de escravo em operações fiscais realizadas em Mato Grosso
no ano de 2009. “Fomos resgatados ali, onde a gente bebia a mesma água da
criação de animais. A gente dormia junto com bichos, no sereno, sem alojamento
adequado. Quando era acidentado no trabalho não tinha respeitado nossos
direitos. Isso é sério, não é brincadeira. O empregador que usa do argumento de
que foi autuado pela fiscalização móvel porque faltou a saboneteira ou escova
de dente está querendo realmente prejudicar a classe trabalhadora e sobreviver
da exploração a mão de obra”, defendeu.
Durante as manifestações de apoio, o
diretor regional do Sindicato dos Bancários de Mato Grosso (SEEB/MT), Luiz
Edwiges, destacou que a Portaria 1.129 compõe um conjunto de estratégias que
tem como premissa o fortalecimento do setor produtivo, retirando garantias dos
trabalhadores, servindo aos interesses políticos e econômicos.
“A própria reforma trabalhista já foi um
retrocesso violento nas conquistas com a retirada de direitos. Agora vem a Portaria, uma nova ofensiva do governo, fruto
da mobilização política da ala ruralista para dificultar o pouco que se tem de
controle e fiscalização da Auditoria Fiscal do Trabalho no combate ao trabalho
escravo. É mais uma forma de violência contra o trabalhador que depende da
fiscalização para ter sua vida resgatada”, avaliou ele.
A professora Rita Mazaro, doutora em
Psicologia Organizacional e do Trabalho do curso de Psicologia da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT), observou que a sociedade não pode ser conivente
com medidas que ferem a dignidade humana. “Precisamos manter esse enfrentamento
pelo trabalho digno e respeito à vida, especialmente num momento em que a
mobilidade humana é grande. Precisamos analisar e refletir o momento político
atual, mas fazer intervenções e contribuições possíveis para que todos tenham
direito ao trabalho digno, um elemento fundamental da identidade do indivíduo.
Havendo trabalho digno, não haverá trabalho escravo”, defendeu.
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Auditores-fiscais do Trabalho protestaram de preto paralisando as atividades por 24 horas contra a Portaria 1.124. (Foto: Mário Hashimoto) |
Marilete lembrou aos auditores-fiscais
que o trabalho escravo contemporâneo não apresenta mais correntes nos pés como
símbolo da escravidão no passado. “Hoje a ameaça vem na forma de arma de fogo apontada
para a cabeça como agente intimidador para que o trabalhador não fuja do local
onde ele é submetido a condição análoga à escravidão”, enfatizou.
Também manifestaram apoio entidades como
Centro Burnier Justiça e Fé, Centro de Pastoral para o Migrante de Cuiabá, Comissão
Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae-MT) e O Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Cuiabá e Municípios. Todas as
entidades participantes do protesto assinaram o manifesto do Sinait.
Mato
Grosso
Dados da Seção de Fiscalização do
Trabalho da SRTE/MT indicam ainda que entre 2003 e 2010, período que o atual
ministro da Agricultura, Blairo Maggi, foi governador de Mato Grosso, o estado
teve 3.977 trabalhadores resgatados de condição análoga à escravidão, o
correspondente a 12,96% do total de
resgates no Brasil, que foi de 33.237 nesse mesmo período. Maggi é um dos
apoiadores da Portaria 1.129 do Ministério do Trabalho.
Outra estatística relacionada a “Estado
do Agronegócio” é a apontada pelo site Observatório Digital, que coloca o
município de Confresa (a 1.160 km de Cuiabá), na liderança no ranking nacional
de resgate de trabalhadores em situação análoga à escravidão no país. Ao todo,
1.348 trabalhadores foram resgatados durante operações no município. O
Observatório Digital é uma ferramenta online criada pelo Ministério Público do
Trabalho (MPT) e Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Atualmente Mato Grosso possui 61
auditores-fiscais do trabalho. Destes, 45 atuam no estado e 16 deles, fora
dele.
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Parte do grupo que participou do protesto nesta quarta-feira (25) em frente à SRTE/MT, em Cuiabá. (Foto: Anderson Pinho) |
25.10.17
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